Quando um roteirista decide escrever uma história original para o cinema, ele cria, indiretamente, a partir de toda a bagagem que consumiu até então. Isso inclui livros que devorou, filmes a que assistiu e notícias que leu.
Já em certos casos, o filme é baseado diretamente em um material já publicado. É o caso dos roteiros adaptados, que são concebidos a partir de outras obras, sejam livros, videogames ou histórias em quadrinhos.

Que tal conhecer as diferenças entre alguns longas-metragens e os livros que os originaram?
Convenção das Bruxas 5o1p3u
(10 anos / Max)

Ambientado em um mundo onde as bruxas estão disfarçadas entre nós, esse clássico de 1990 foi baseado no livro “As Bruxas”, do britânico Roald Dahl, publicado em 1983. Ele mantém a atmosfera assustadora e o tom imaginativo do autor, mas traz um final totalmente diferente.
Após invadir a reunião das bruxas em um hotel na Inglaterra, o protagonista é transformado em ratinho. Ele consegue impedir o plano das vilãs, mas não consegue voltar à forma humana. Isso só muda quando uma bruxa arrependida, nos momentos finais do longa, surge para reverter o feitiço e transformá-lo em garoto novamente.
Já no livro, o garoto não tem um final tão feliz e fica para sempre como rato. É um destino mais sombrio, que não combina tanto com o tom hollywoodiano de filmes infantis e provavelmente não agradaria parte do público.
A Fantástica Fábrica de Chocolate 1l572l
(Livre / Max)

O escritor Roald Dahl também assinou outros livros que fizeram sucesso na tela grande, como “Matilda” e “James e o Pêssego Gigante”. Sua obra mais famosa, porém, foi publicada em 1964 e conta a história de Charlie, um garoto que encontra um bilhete dourado em um chocolate e faz um tour por uma fábrica lendária.
Já tivemos duas adaptações para o cinema, além de uma prequel centrada no chocolateiro Willy Wonka. A primeira versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, de 1971, veio em formato de musical e trouxe cenários icônicos. Mesmo assim, o filme desagradou o autor, que impediu uma continuação de ser filmada.
Já a versão de 2005 foi dirigida por Tim Burton e é mais fiel ao livro. Estrelado por Freddie Highmore, o longa traz uma abordagem ocasionalmente macabra e mergulha mais fundo no ado de Wonka.
Shrek 117164
(Livre / Prime Video, Netflix)

O ogro mais famoso do mundo revigorou os filmes infantis em 2001, além de garantir o primeiro Oscar da categoria Melhor Animação. Shrek, com sua arrogância e desejo de isolamento, chegou às telonas como um herói às avessas e protagonista incomum, em meio a uma infinidade de animações tradicionais.
A franquia pode ter amolecido o ogro e o tornado mais carinhoso a cada sequência, mas sua forma original é ainda mais distinta. Ela surgiu no livro “Shrek!”, de 1990, escrito e ilustrado por William Steig.
Na obra, o protagonista tem habilidades como cuspir fogo e soprar fumaça pelas orelhas. A história, nesse caso, não se desenrola após criaturas de contos de fadas invadirem seu pântano, como no filme, e sim quando os pais de Shrek o expulsam de casa. O objetivo é fazê-lo cumprir seu papel como ogro, aterrorizando mundo afora.
O livro não é dominado por referência à cultura pop, como a animação, mas traz a mesma essência provocativa de uma paródia das histórias de princesa. Já personagens como Burro e Fiona têm personalidades e arcos narrativos bem mais desenvolvidos no longa.
Adaptação para o cinema 4e3r2m
É comum que muitos livros, ao virar roteiro de cinema, deixem para trás personagens, lugares e até partes relevantes da história.
Pense em “Harry Potter e a Ordem da Fênix” e suas 702 páginas. Seria impossível reproduzir, em cena, todos os eventos em um filme com duração adequada. No fim das contas, um filme de 15 horas não seria tão agradável.
Também é preciso transformar em cenas os elementos que funcionam apenas nas páginas. Um longo parágrafo na voz do narrador, descrevendo meticulosamente um ambiente, pode ser traduzido de forma completa em poucos segundos de tela.
Por serem mídias com linguagens distintas, o filme e o livro sempre terão diferenças, por mais perfeita que seja a adaptação literária. Confira dois exemplos de histórias que acertaram ou falharam miseravelmente:
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As crônicas de Nárnia j3f2c
(10 anos / Disney+)

Uma das sagas mais conhecidas mundialmente, publicada entre 1950 e 1956, estreou no cinema em 2005 sob a tutela da Disney. A primeira aventura, baseada no livro “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, virou um encantador espetáculo visual, fazendo jus ao rico universo do escritor C. S. Lewis.
Com um elenco jovem afiado e direção de Andrew Adamson, encarregado dos dois primeiros filmes do Shrek, o longa surfou na febre das adaptações de fantasia, como Harry Potter e O senhor dos anéis.
A continuação, “As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian”, veio em 2008, mas arrecadou apenas metade do seu antecessor nas bilheterias. A Disney abandonou a saga, que foi adquirida por outro estúdio e resultou em um terceiro filme, que rendeu ainda menos.
Os sete livros devem ganhar novas adaptações da Netflix, com os dois primeiros escritos e dirigidos por Greta Gerwig, que comandou “Barbie”.
Deu errado 2r66f
Percy Jackson e os Olimpianos 6k4z5b
(10 anos / Disney+)

Em 2010, o primeiro volume de “Percy Jackson”, escrito por Rick Riordan, ganhou vida no cinema. Estrelado por Logan Lerman, acabou frustrando muitos fãs da saga.
O protagonista, que tem 12 anos no livro, teve a idade alterada para 16 na adaptação. Detalhes como a caracterização casual dos deuses e a cicatriz marcante do vilão também foram desconsiderados.
Felizmente a Disney transformou a história sobre deuses e mitologia grega no mundo contemporâneo em série, com o envolvimento direto do autor. O resultado, muito mais bem-acabado e fiel ao original, fez sucesso e renderá uma segunda temporada.