
Caro (a) leitor (a),
“Todas as cartas de amor são ridículas, mas não seriam ridículas se não fossem de amor.” A frase é de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa — um dos maiores poetas da língua portuguesa, conhecido por escrever sob múltiplas identidades e dar voz a diferentes emoções e visões de mundo. Álvaro, seu lado mais ional e dramático, traduziu nessa frase o que muitos sentem, mas poucos têm coragem de dizer: o amor, quando colocado no papel, pode até parecer piegas — mas é exatamente essa entrega que o torna tão real. E foi por nunca ter esquecido a carta que recebi do meu pai ao completar 15 anos que decidi fazer o mesmo agora para o meu filho.
Aquela carta me marcou profundamente. Foi mais do que palavras — foi um gesto que ficou guardado em mim, moldando minha forma de enxergar o afeto. Desde então, acredito que escrever é uma forma poderosa de amar. E mesmo com o ar dos anos, nunca esqueci o impacto daquele registro.
Talvez por isso, desde que meu filho era pequeno, criei o hábito de espalhar bilhetinhos pela casa. Frases simples, mas cheias de presença. Coisas como: “Faça do seu dia um dia feliz”, “Ser feliz é uma delícia”, “O sol está lindo lá fora”, “Você é muito amado”, e por aí vai. Nunca achei que amor precisasse de ocasião. Sempre acreditei que ele precisava mesmo era de constância — mesmo que em forma de papel colado na parede do quarto ou dobrado dentro da mochila.
E hoje, decidi escrever para ele. Não para marcar uma data específica, mas para eternizar em palavras aquilo que é vivido todos os dias em gestos, conversas, silêncios, almoços de domingo e olhares cúmplices.
Peço licença, caro(a) leitor(a), para dividir essas linhas — com a leve pretensão de que esse ato de amor também te inspire. Porque o amor compartilhado tem esse dom: o de se espalhar feito brisa boa, feito sol de fim de tarde.
Há livros dedicados às mais célebres cartas de amor da história. Aquelas que atravessaram séculos — de Napoleão a Josephine, de Frida a Diego — ou que cruzaram o universo da ficção para tocar a vida real. Como as cartas que Carrie Bradshaw lê em Sex and The City, que depois da série viraram livro e, de certa forma, abrigo para tantos corações modernos.
E aqui vai a minha:
Meu filho,Você é uma revolução silenciosa na minha vida.Você chegou e me virou do avesso — e foi nesse avesso que me encontrei inteira.Crescer ao teu lado é a mais doce das aventuras.Te ver descobrir o mundo com teu olhar ávido, teu senso de justiça, caráter e princípios e tua leveza — me enche de orgulho.Você me ensina sobre amor todos os dias, mesmo sem perceber.Te amo com tudo o que sou, e mais um pouco do que ainda serei.Que a vida seja generosa contigo. Que assim como escrevi no dia que você nasceu, que você aprenda e conheça o mundo que vai muito além da esquina de casa. Que estejamos sempre juntos na trajetória da vida. E que você nunca se esqueça: você é muito amado.
Cartas de amor não precisam ser perfeitas. Precisam ser verdadeiras. São como retratos escritos daquilo que sentimos — e, às vezes, nem sabemos dizer em voz alta.
Então, com toda licença, deixo aqui a minha, representando todas as mães e pais apaixonados. Uma carta de amor. Desejo que minha história te inspire para que você também registre o seu amor.